Desde 2006, despontaram estudos sobre qualidade de vida dos professores. É o que mostra pesquisa bibliográfica, realizada nas bases de dados Biblioteca Virtual em Saúde (BVS) e Scientific Electronic Library Online (SciELO), sobre as condições de trabalho e saúde desses trabalhadores. No total, foram levantados 175 trabalhos publicados entre 1997 e 2017. Os resultados encontrados confirmam a permanência de um panorama de intensificação da precariedade e do adoecimento entre os docentes.

O artigo “O perfil das publicações sobre condições de trabalho e saúde dos professores: um aporte para (re) pensar a literatura“, que traz essas reflexões, foi publicado no periódico científico Saúde e Sociedade. Os autores, Jefferson Peixoto, tecnologista da Fundacentro, e Frida Fischer, professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (USP), organizaram os achados em quatro categorias: problemas de saúde; condições de trabalho e saúde; qualidade de vida; e trabalho, carreira e fundamentos da ação docente.

Na categoria sobre problemas de saúde, foram encontrados estudos sobre distúrbios da voz e transtornos mentais e comportamentais que acometem os professores. Em número menos expressivo, apareceram trabalhos sobre transtornos musculoesqueléticos/ osteomusculares, saúde cardiovascular e saúde ocular.

Já a de estudos sobre condições de trabalho e saúde dos professores contemplou pesquisas dedicadas a investigar diretamente o tema da categoria, mas também outras que, embora investiguem objetos distintos, estão voltadas a elementos específicos do contexto de trabalho dos professores e se vinculam às condições laborais gerais. São casos de trabalhos sobre assédio moral no trabalho, relação entre sindicalismo e configuração das condições de trabalho, relação entre a implementação de inovações e a saúde e perfil de morbidade dos professores.

Os estudos sobre qualidade de vida e trabalho de professores formaram a terceira categoria. “Entre os achados dessa categoria, dois grupos principais se destacaram. O primeiro trata da qualidade de vida de professores no sentido estrito do trabalho, sendo caracterizado por estudos sobre qualidade de vida no trabalho (QVT). O outro se constituiu de publicações voltadas a estudar a qualidade de vida de professores em sentido relacional, isto é, vinculado a algum problema de saúde como distúrbio vocal ou esgotamento profissional (Burnout), por exemplo”, explicam os autores.

Por fim, a quarta categoria traz estudos sobre trabalho, carreira e fundamentos da ação docente, especialmente do campo da educação, marcados pela abordagem qualitativa e por ampla diversidade nos títulos, assuntos e formas de apresentação. O conjunto refletiu duas linhas de pesquisa: formação de professores e políticas públicas educacionais.

Além de constatarem o aumento de interesse pelo assunto, especialmente em relação ao tema qualidade de vida, os pesquisadores concluem “que os estudos do campo educacional não têm inserido a preocupação com a temática da saúde dos professores mesmo quando o intuito é estudar o trabalho docente, a formação de professores e as políticas públicas educacionais”.

“A aproximação dos campos torna-se fundamental, bem como a adoção de ações de intervenção, já que, a despeito do significativo número de estudos publicados, pouco se tem feito em termos de ações práticas ancoradas nos resultados desses estudos para a melhoria das condições de trabalho e saúde dos professores”, apontam os autores.

Fonte: Fundacentro