Desde o final do século XIX, quando surgiram os primeiros registros da dengue no Brasil, o mosquito Aedes aegypti tem sido um desafio para a saúde pública brasileira que, inicialmente lidava apenas com a epidemia de dengue e febre amarela.

Agora, décadas depois, o mosquito desponta com um desafio ainda maior ao trazer à tona outras duas doenças sérias – chikungunya e zika – que têm preocupado autoridades sanitárias de todo o país e também do mundo, ao trazerem sérios riscos à saúde da população.

Para abordar o desafio dos arboviroses para a saúde pública, o Congresso ABMT l 75 Anos iniciou sua programação exclusiva para médicos, na sala New York, auditório Dr. Daphnis Ferreira Souto, com a participação do médico pediatra e infectologista Dr. Edimilson Migowski, sob a coordenação da diretora de Relações Externas da ABMT, Georgia Saldanha de Souza.

Ele lembra que a vacina tem dupla finalidade, a prevenção individual e a proteção da população. Quanto maior a cobertura, menor será a chance de uma pessoa ser infectada, mesmo aquela que, por problema de grave alergia ao ovo de galinha ou saúde (imunodeficiência por exemplo), não pôde ser vacinada.

No caso da febre amarela, o risco de um paciente desenvolver algum efeito adverso grave com a vacina é de um para um 500 mil vacinados pela primeira vez, mas a letalidade da doença é uma das mais altas do mundo. Enquanto na dengue a proporção é de 1 morte para cada mil pacientes, e na meningite é de 20 pacientes para cada cem, na febre amarela, o risco é de 30 a 50 pacientes em cada cem, ficando atrás apenas do ebola, que mata 80% dos infectados e da raiva, que mata 100%.

O crescimento urbano desordenado, o acúmulo de lixo e a água parada representam um obstáculo para a erradicação do mosquito. “Isto, sem levar em conta, a densidade demográfica que potencializa a contaminação pelo número e proximidade de seus habitantes. Um vez contaminado, o mosquito seguirá contaminando não só os humanos, mas seus descendentes”, pontuou o especialista.

Ao longo da exposição foram debatidos a eficácia de medicamentos como da dipirona, paracetamol e ibuprofeno no tratamento de pacientes, mistificações da cultura popular no combate aos mosquitos, o uso de repelente nos enfermos para evitar que novas fêmeas sejam contaminadas e a importância de comunicar melhor os sinais de agravo para a população atendida. “O nosso papel é educar”, concluiu.

Confira mais sobre o tema no vídeo abaixo:

Congresso ABMT l 75 Anos: entrevista com Dr. Edimilson Migowski

Durante o Congresso ABMT l 75 Anos, o médico pediatra e infectologista, Dr. Edimilson Migowski, fala sobre pesquisas para inibição de doenças como dengue, chikungunya e zika e medidas para afastamento de trabalhadores por conta dessas doenças. A diretora Técnico-Científica da Associação, Dra. Nadja Ferreira, também participa de entrevista. Veja mais sobre o tema no site da ABMT: http://bit.ly/351KadI

Posted by ABMT – Associação Brasileira de Medicina do Trabalho on Thursday, December 26, 2019

Atenção à saúde primária

Com custos cada vez mais elevados e com a chamada “inflação médica” (VCMH) podendo crescer o dobro da média mundial em 2019 (de acordo com o relatório Global Medical Trends), está cada dia mais difícil a relação entre usuários, gestores e planos de saúde, colocando em risco a oferta do benefício para o empregado.

“Se pensarmos que 80% dos planos de saúde são contratados por empresas, é evidente a importância dessa discussão para a melhoria das condições de trabalho promoção da saúde. E o benefício agregado mais importante para o funcionário de uma empresa sem dúvida é contar com a cobertura de um plano de saúde”, afirmou o médico e coordenador de saúde corporativa Dr. Guilherme Murta ao iniciar a palestra “A Medicina do Trabalho e a Saúde Suplementar nas empresas”, sob a coordenação do presidente da ABMT, Dr. Gualter Nunes Maia.

De acordo com Murta, esta conta está cada vez mais insustentável financeiramente devido a vários fatores. Entre eles, está a relação custo benefício versus efetividade, onde determinados tratamentos prescritos tem um custo elevado para uma baixa resolutividade, e uma falta de consenso quanto aos protocolos médicos.

Diante de um cenário tão complexo, quais seriam as alternativas? Segundo ele, entre as diversas frentes de ação possíveis, um sistema de atenção primária se mostra como uma importante ferramenta na gestão da saúde suplementar dos colaboradores de uma empresa.

Ganhos da saúde

Mas se a fórmula para a resolução do problema parece estar à disposição, qual seria então o impedimento para que mais organizações invistam em novos modelos de gestão em saúde?

“O primeiro grande desafio do serviço de medicina ocupacional nas empresas é ganhar força e credibilidade para promover as mudanças necessárias em termos de gestão da saúde do trabalhador”, observa o Dr. Paulo Zétola, conselheiro fiscal da Associação Nacional de Medicina do Trabalho (ANAMT), que abordou a Gestão nas Empresas em Medicina do Trabalho em sua palestra.

Sob a coordenação do Dr. Hugo Leite, adjunto do Conselho Técnico-científico da ABMT, a exposição destacou a importância de o gestor assumir a responsabilidade e ter o entendimento de que precisa obter conhecimento especializado em gestão, questões administrativas que em geral não fazem parte da formação do médico do trabalho.

“A proteção da saúde da população de um país é a missão mais nobre da Medicina do Trabalho. O conhecimento em gestão permite que os médicos do trabalho conheçam o funcionamento das demais áreas da empresa e atuem de forma mais assertiva”, afirmou.