Artigo publicado pela Revista Brasileira de Saúde Ocupacional (RBSO) busca compreender a organização e as características do trabalho das merendeiras, observando como a implementação do Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) ocorre. O estudo qualitativo, fundamentado na análise ergonômica do trabalho (AET), foi realizado em três escolas estaduais de Campinas/SP durante o ano de 2017.

“Os resultados foram discutidos à luz da ergonomia da atividade e da ciência política”, explicam as autoras. “Há a constatação de diferentes modos de implementação do programa e diferentes estratégias operatórias, o que evidencia as estratégias e adaptações realizadas pelas merendeiras (coping) para fazer frente às demandas do trabalho real”, completam.

Os esforços repetitivos na cozinha e a falta de investimentos em ferramentas adequadas para a realização de atividades geram o risco de doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho. Outra dificuldade é a exigência de preenchimento, pelas merendeiras, de muitas planilhas de controle, que, geralmente, não fazem sentido para as trabalhadoras e atrapalham a realização daquilo que consideram importante – cozinhar e alimentar os alunos.

As merendeiras são submetidas à tripla chefia, formada por nutricionistas da Ceasa Campinas, que cuidam do abastecimento, por nutricionistas da empresa terceirizada, responsáveis pelas boas práticas de higiene, e pelas diretoras escolares. Elas relatam que cada uma das chefias atribui valores e peso diferentes para as tarefas. Dessa forma, ficam sem saber a quem seguir.

Outra dificuldade relatada pelas merendeiras é o recebimento de alimentos com qualidade ruim. Também precisam habitualmente mudar o cardápio, seja por conta do excesso ou falta de produtos, data de validade ou o fato de os alunos ou elas não gostarem de determinadas preparações.

“O diálogo seria importante para os gestores entenderem o trabalho executado e as dificuldades enfrentadas que, muitas vezes, transcendem a questão material e instrumental”, alertam as autoras, que constatam os problemas gerados pela terceirização e pela desvalorização do saber prático. Nesse contexto, destacam o importante papel de microgestão que essas trabalhadoras exercem na implementação do Pnae.

Leia o artigo: Um olhar interdisciplinar sobre o trabalho das merendeiras terceirizadas de escolas estaduais do município de Campinas, SP

Fonte: Fundacentro