Examinar estatísticas de saúde dos professores e reconhecer os fatores determinantes para o adoecimento e afastamentos relacionados ao trabalho desses profissionais são desafios para o país. Com a intenção de identificar fontes de informação para subsidiar a elaboração de Políticas Públicas (PP), tecnologistas da Fundacentro lançam o relatório técnico “Estatísticas e indicadores epidemiológicos de saúde dos professores: um novo olhar com base em dados públicos oficiais”.

Por meio de um extenso trabalho de pesquisa nas bases de dados públicas, tais como registros administrativos governamentais, censos demográficos, levantamentos populacionais e dados de sistemas de informação de saúde, o relatório traz um informe sobre as ocupações docentes na Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) e suas caracterizações diversas.

Ao examinar os vínculos empregatícios na Relação Anual de Informações Sociais (Rais), de 2003 a 2020, um dos aspectos evidenciados foi o da grande variação no número de professores de nível superior da Educação Infantil (CBO 23110), tanto nos registros de vínculos estatutários quanto no de celetistas.

Observou-se que, ao longo desses 18 anos, houve um crescimento anual médio de 13% entre os professores de nível superior da Educação Infantil estatutários e 7% entre os celetistas, um acréscimo que representou uma quadruplicação do montante total de CBO 23110.

Nessa categoria de CBO, os vínculos de servidores da educação pública, que eram minoria nas declarações da Rais no início do século 21, tiveram um impulso expressivo no período, aproximando-se da quantidade de vínculos de professores sob o regime CLT existentes no final de 2020.

Outro ponto apresentado pelo relatório foi o estudo preditivo para avaliar se era possível estimar afastamentos por morbidades de professores da educação infantil, atuantes na rede pública municipal do estado de São Paulo entre 2014 e 2018.

Para tanto, foram empregadas técnicas de inteligência artificial, utilizando algoritmos de machine learning para identificação de padrões e realização de estimativas de probabilidades de risco. Para a pesquisa foram selecionadas 11 variáveis preditoras, entre elas: idade, tipo de vínculo empregatício, tempo no emprego e média de alunos por turma.

O estudo conseguiu obter alta performance preditiva utilizando apenas dados públicos oficiais. Constatou-se que algoritmos de machine learning podem contribuir para prognósticos mais assertivos em relação aos métodos tradicionais nas áreas da saúde pública e do trabalhador. Dessa forma, poderia se acompanhar e, possivelmente, prevenir os afastamentos desses profissionais.

“Um ponto forte do relatório técnico foi ter explorado e examinado potencialidades de dados estatísticos há muito existentes, porém ainda pouco usados em SST. O olhar inaugural a essas bases poderia ajudar a converter algumas potências latentes em ações efetivas de apoio às PPs necessárias ao campo da saúde dos trabalhadores docentes, um segmento em vulnerabilidade crescente no país”, afirmam os autores Fernando Fernandes e Ricardo Lorenzi, tecnologistas da Fundacentro.

A publicação faz parte do projeto de pesquisa da Fundacentro “Caminhos para a melhoria das condições de trabalho e saúde dos professores na perspectiva das políticas públicas”, coordenado pelo tecnologista Jefferson Peixoto.

Fonte: Fundacentro